Eis que as últimas duas semanas no restaurante Attica me inspiraram a olhar profundamente para os anos mais longíquos da minha breve existência.
Lembro-me de painho, sentado em um banquinho improvisado na sua horta sempre inacabada, cavocando, semeando, catando ervas daninhas que pareciam nunca parar de brotar e tentando eliminar os ramos de melão de São Caetano (foto).
Quantas vezes comi as sementes vermelhas e doces desta frutinha selvagem, sem nem saber o porque? Nasciam ali contra a vontade de meu pai, mas fazer o que? Fazia parte da paisagem da horta, por mais que tentássemos erradicá-las, ali cresciam sem parar.
Lembro dos pés de coentro, cebolinha, hortelã, hortelã grosso, bananeiras, maracujás, quiabeiros, feijão verde, cenouras e outra incontáveis hortaliças que o meu jovem pai não cansava de tentar fazer brotar.
Enfim, nos meus 6 ou 7 anos de idade, pernambulava por entre aqueles canteiros, atrapalhando mais que ajudando, mas desfrutando, me sentindo parte daquilo. Memórias deliciosas.
Nasci e cresci correndo descalço, rodeado por galinhas- até tinha uma de estimação, que viveu por mais de 10 anos e só morreu porque um amigo de um dos meus irmãos a matou "acidentalmente". Minha Cocó, que até hoje me entristeço quando penso isto! Engraçado, pois sou extremamente desapegado.
25 anos depois, todas manhãs, levanto-me cedo e vou para a imensa horta do Attica, situada no Ripponlea State- Melbourne, para jardinar, catar ervas daninhas, colher centenas de ervas e legumes que, horas depois irão compor o menu do dia.
E vejo o quanto de meu pai há em mim. O quanto ele está comigo, o tempo inteiro, em cada erva daninha, em cada broto, em cada flor que pacientemente tenho que colher.
Interessante como a maturidade gastronômica está intrincicamente ligada às experiências da infância. E mais interessante ainda, a natureza cíclica da vida.
Me sinto, mais uma vez, o menino que fantasiava estar em uma floresta, mesmo estando no jardim de casa.
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